quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Olhos Fechados Para o Mundo

Uma das “vantagens” da cidade grande é o transporte público que te leva praticamente para todos os cantos do município, apesar claro das precárias condições dos ônibus, esses momentos dentro dele são um misto de desespero, angústia, aperto e reflexão, acho que qualquer passageiro teria histórias suficientemente interessantes para escrever um livro devido as diversas conversas que escutamos meio que obrigatoriamente.

Hoje no entanto o que me chamou atenção não foi nenhum dialogo mas sim um silencio, um silencio sublime, sereno e inebriante.Em meio ao caos, ao aperto, uma criança adormecia nos braços de uma pessoa que provavelmente era seu pai.Enquanto os adultos se matavam em busca de um certo conforto, não que o conforto fosse possível, a menina dormia como uma pluma leve acomodada numa espécie de ninho criada pelo senhor com seus braços que a envolvia dando-lhe provavelmente uma sensação de carinho e segurança, seu olhar era sereno e sua expressão em meio ao sonho era inerte, como se o tempo estivesse ali congelado e os braços de seu pai fossem um delicioso colchão de nuvens fofas.

Tudo isso me levou a refletir a vida, sobretudo a infância, quantas vezes  não temos vontade de sumir do mundo, de abandonar tudo o que vivemos e nos isolar, as crianças fazem isso com facilidade, basta um colo confortável e um pouquinho de sono, elas se isolam do mundo, não tem a mínima preocupação com o mundo ao redor pois seus super heróis(pais e mães) os protegeram até o fim, até as ultimas consequências.Quando abandonamos a infância e caímos nesse mundo que mais parece um gigante querendo pisotear a tudo e a todos perdemos um pouco a confiança, não dormimos mais tranquilos nem serenos, sempre carregamos alguma preocupação, seja com o ponto de descida do ônibus ou com possíveis furtos dependendo da estabilidade de seu sono.

O pai e a mãe já não são mais tão heróis e passam a precisar de nós assim como nós precisávamos deles, os papéis se invertem e vemos que a peça teatral do mundo é cheia de alegrias e tristezas, temos que nos defender sozinhos e não poderemos mais nos isolar do mundo nem fechar os olhos para o que está a nosso redor, a vida toma uma forma diferente.

Uma outra interpretação sobre o sono da criança que me veio a cabeça foi menos sentimental e mais politica, estariam nossos comandantes em um sono profundo em meio ao caos da cidade e do transporte em si, enquanto nos esprememos seriam eles crianças em ninhos confortáveis dormindo sem se importar com o aperto da população ao redor, ou seriamos nós crianças abandonadas sem um colo do poder público para poder descansar, acho que as duas interpretações cabem ao cenário porém deixo a cada um a que mais lhe convier, cada um sabe o que toca seu coração, a singeleza da criança ou o sofrimento do adulto….

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