Ainda com o mote de perder tempo hoje o que pauta minha madrugada é o balanço do que passamos em nossas vidas, lembrávamos na sala em uma conversa informal o tempo que meu pai ainda estava entre nós e senti um certo aperto daqueles que percorrem a alma da pessoa e atravessam a guela como se fosse sufocar.Dessa vez não era saudade mas sim um pensamento de “ e se tivesse sido diferente ?” Nunca pra mim a música Epitáfio fez tanto sentido.Naquele momento eu pensava exatamente naquelas frases precedidas pela palavra deveria, tantas e tantas coisas que poderia ter feito e não fiz, outras que talvez eu poderia não ter feito.Não é arrependimento é dúvida mesmo.
Passamos metade da vida lamentando o que não fazemos ou o que fazemos numa indecisão tenebrosa.E o que leva a isso ? Talvez seja o sentimento de sermos incompletos, não preenchidos totalmente com algo que não sabemos bem do que se trata.Recentemente tive a estranha sensação de me sentir maravilhosamente bem em um velório, a cena mórbida e triste para uns, para mim era um sinal de carinho, amizade, solidariedade e perseverança na caminhada da vida.Estava eu ali sem ter conhecido o morto em exercício da vida, mas estava ali por conhecer os que o conheciam.Isso foi de certa forma uma prova para a minha pessoa de que o fim talvez seja um meio de continuarmos a viver, para os que ficam é onde é provado quem esta realmente caminhando ao seu lado e quem esta só passando por sua vida correndo.
Esse episódio ensinou-me também sobre o quanto vivemos preocupados com nosso dia-a-dia esquecendo do mais importante, dar atenção aos que nos rodeiam, um dia eles vão e o que ficará em nossas memórias com certeza será as lembranças dos momentos que vivemos ao lado dessas pessoas ilustres que nos ajudaram ou simplesmente nos rodearam durante nossas vidas.Não vale a pena sangrar por sangrar, sofrer de véspera e anular assim as pessoas como se fossem objetos, deixando muitas vezes de lado família e amigos para correr atrás simplesmente de dinheiro.
Quantos momentos já não perdemos por acharmos que não valia a pena sacrificar-nos para suprir as necessidades de carinho dos outros? Nessa ocasião senti que o tempo que tinha passado lá, que tinha em tese perdido no meio das pessoas tristes foi de fato um ganho sensacional para minha alma.
O que alimenta a alma não é somente rezas, rituais...claro que também tem sua importância tudo isso mas não podemos deixar de lado o exercício da caridade, da solidariedade, da compaixão e sobretudo da verdadeira amizade.Só alcançaremos a plenitude de nosso espírito se ajudarmos aos outros a encontrar isso também, a evolução é em conjunto assim como vivemos em conjunto e precisamos desse todo. Precisamos de todos....